Bernes, banda paulistana de punk cristão


O início

Em meados de 1988, então com 10 para 11 anos, Davi estudante da EMPG “Marcílio Dias”, em uma incursão a biblioteca da mesma, se deparou com o livro ” O que é Punk” de Antônio Bivar, que trazia em suas páginas, a cena punk inglesa e americana. De tanto renovar o empréstimo do livro na biblioteca, a bibliotecária da época, lhe presenteou com o mesmo. “Lembro que ela falou: Só você lê esse livro, ele é seu”.

Amigo de infância inseparável de Davi, Messias, também bebeu dessa fonte, juntamente com Davi, lembrando que os mesmos eram moradores da Zona Norte de São Paulo, berço efervescente do punk brasileiro. Com todos esses ingredientes, não é difícil adivinhar o que aconteceu, a dupla de amigos formou sua banda Punk.

Lembro que os outros moleques da época, ouviam RPM, Genesis, e a gente, meio que na contramão deles, ouvindo Ramones, The Clash, Sex Pistols, Dead Kennedys, Cólera e Replicantes. O visual também era o oposto, já usávamos coturnos, jeans e gandolas militares. Aponta Davi.

Não trabalhávamos, éramos crianças, apenas estudávamos, então foi muito difícil comprar os instrumentos, o que tínhamos era meu violão e o do Davi. Explica Messias. Mas mesmo assim, já tocávamos covers dos clássicos punks e tínhamos as primeiras composições.

Com o passar do tempo, a dupla, acabou se afastando, Messias mudou-se do bairro e Davi, começou a trabalhar, embora muito amigos, perderam o contato.

Com o afastamento causado pela correria da vida, em 2020, quando houve a pandemia de coronavírus, com as incertezas dos dias seguintes e com todos presos em casa, Davi voltou a circular pelo bairro e o encontro com alguns amigos de infância, foi inevitável e após alguns minutos de conversa, surgiu uma demanda: “Preciso achar o Messias. Precisamos voltar com a banda.”

Davi ficou com essa missão, e diferente do início, hoje Davi, já possuia toda infraestrutura necessária em equipamentos, instrumentos e local para a retomada.

Davi achou Messias, os dois amigos se reuniram na casa do Davi e após muitas risadas, regadas a Coca Cola, a banda Bernes voltaram a ativa. Atualizaram a logomarca da banda, essa atualização, ficou por conta do famoso cartunista Leandro Franco, que também é roqueiro – do Asteroides Trio, a logo traz uma mosca varejeira (responsável pela larva Berne) moicana e para homenagear os Ramones, banda referência para os membros, adotaram o sobrenome Berne.


Os dois primeiros álbuns

O primeiro álbum, O Picanha Incidente? É uma sátira ao 5° álbum de estúdio da banda estadunidense Guns N’ Roses, o The Spaguetti Incident? Assim como o duplo álbum da banda brasileira Ratos de Porão, o Acidente de Feijoada, e também o álbum Picanha Incidente?, faz uma alusão a fala de um tal presidente populista, que prometeu em sua campanha, churrasquinho de picanha e cervejinha.

Na semana após o lançamento, o vocalista e compositor Messias Berne apontou em entrevista a portais de notícias que Picanha Incidente? é “um dos muitos [discos] que virão” e descreveu o trabalho como um “aperitivo”. Ele ainda creditou a longa amizade com o baixista e compositor da banda Davi Berne por uma virada na carreira:

Nós vamos ter mais discos que são mais músicas dos Bernes. […] Ao longo dos trinta anos mais ou menos desde que nós de fato se reunimos e decidimos deixar de lado o protesto contra a indústria da música e deixamos de ser uma banda sem discos lançados (por opção), para sermos uma banda com material gravado.

Já o segundo disco da banda Bernes, o Álbum Cinza, também é uma paródia de dois famosos discos e bandas.

A primeira banda é nada mais, nada menos, que os Beatles e seu famoso álbum Whrite (Branco) de 1968. O referido álbum é o décimo dico de estúdio da banda inglesa e é recorde em vendas, assim como, o The Black Álbum da banda estadunidense Metallica, o The Black Álbum, também é recorde em vendas, sendo o disco mais vendido do Metallica. Os integrantes da banda Bernes, costumam falar que o álbum Cinza é uma mistura dos álbuns branco dos Beatles e do preto do Metallica, se tornando o disco cinza, mas ressaltam que é apenas na cor, nada em relação ao som, que continua o bom e velho punk.

Os Bernes irão lançar em 2025, três álbuns simultâneos, se trata do trabalho mais ambicioso da carreira da banda punk paulistana, como eles mesmos definem: “É um desafio pautado em três pilares: disciplina, dedicação e propósito”.

Poucas bandas, ainda mais no segmento punk, chegam ao patamar em que não precisam provar mais nada a ninguém. É o caso dos Bernes. Com 37 anos de trajetória, com dois discos gravados. É seguro afirmar que os Bernes está em sua melhor fase. 

Um mês depois do álbum Cinza (2024), o segundo trabalho de estúdio, eles anunciam o lançamento de três álbuns de forma simultânea – Maneiras Fofas e Carinhosas, Imirim Diamonds e Jack Bauer – com 39 músicas inéditas. 

Maneiras Fofas e Carinhosas, é uma sátira como os outros dois primeiros discos da dupla, do disco que o cantor e compositor Bob Dylan lançou recentemente o disco “Rough and Rowdy Ways”, que foi considerado o marco da imortalidade do artista. A nova produção estreou em uma posição alta nos rankings mundiais, o que além de colocar o artista em alta novamente, prova que sua influência sob a indústria ainda está intacta, mesmo com o astro lançando discos desde 1960. 

“Rough and Rowdy Ways”, que na sua tradução para o português significa Maneiras Ásperas e Turbulentas, passou a ser no disco dos Bernes. “Maneiras Fofas e Carinhosas”, na capa do disco de Dylan, aparece um casal e uma terceira pessoa dançando Blues, se trata de uma foto dos anos 60, já a capa dos Duo Bernes, traz a foto de uma festa punk. São 13 músicas inéditas, que são assinadas por Messias Berne e Davi Berne e traz o bom e velho Punk Rock.

Imirim Diamonds, é também uma sátira, agora do álbum “Hackney Diamonds” dos Rolling Stones. Os Stones explicaram que “Hackney Diamonds” é uma referência à natureza da área de Hackney, em Londres. “É como quando você quebra o pára-brisa no sábado à noite em Hackney, onde as janelas do carro são quebradas”, disse Jagger. A capa do disco dos Stones, traz um coração de diamante sendo quebrado por uma adaga pontiaguda, já o disco dos Bernes, traz um coração de pedra (não somos chiques iguais os Stones para ter um coração de diamante), e traz o nome do bairro de origem do duo, o bairro do Imirim, periferia da zona norte de São Paulo.

Jack Bauer, já o albúm Jack Bauer é uma homenagem ao cachorro da raça pug do baixista da banda Davi Berne, que acompanhava as reuniões feitas na casa de Davi. O nome Jack Bauer é nome do protagonista da serie policial 24 horas

Numa inversão do que se tem visto no mercado fonográfico, essa inovação, será divulgada no formato digital em etapas, ao longo dos meses de 2025.

“Somos da década de 1980, quando todo mundo lançava um álbum novo por ano. O mundo mudou e nós, obviamente, passamos a ter um ritmo de lançamentos distinto do que estava acostumado. Mas, no fundo, somos compositores de grandes produtividades. “Hoje, estamos mais velhos, com 48 anos, nos sentimos muito melhores, mais lúcidos, ativos e dispostos, afirmam. “Somos ligados nessa coisa da quantidade, da série, do agrupamento de itens semelhantes, mas distintos ao mesmo tempo. Esse é o raciocínio que temos não só para músicas, mas para nossa própria vida. Fazer um disco é como organizar vasos, reunindo e agrupando diferentes espécies. Tudo é análogo”, completa eles.

Os álbuns contam com Messias Berne na guitarra e voz e Davi Berne, no baixo, todas músicas foram feitas pelos dois. “Esse trabalho é realmente uma obra-prima em termos de composição e experimentação musical, com 39 músicas que transitam pela influência de diversas bandas que fizeram e fazem parte da trilha sonora de ambos, são elas: Ramones, Dead Kennedys, The Clash, Sex Pistols, Cólera e Replicantes”.

Esses três álbuns, realmente surgiram de uma forma despretensiosa. A princípio, estávamos no estúdio em São Paulo, gravando as vozes do álbum Cinza. 

“Fomos tão bem que decidimos gravar três álbuns simultâneos. Nesse meio tempo, escrevemos outras canções. Apesar de não termos planejado, quando nos demos conta, estávamos com todo o material para esse projeto. Foi tudo muito rápido e natural”, lembra Messias Berne.

“Se me perguntam qual é a minha profissão, eu respondo ‘sou um fazedor de discos’. É o que eu mais gosto de fazer, porque reúne tudo: a criação em forma de composição e arranjo, a aplicação do que me formou e a semente para o que virá”, afirma Davi Berne.

Além do projeto audacioso (um feito impressionante, ainda mais se tratando de um artista independente), estamos nos preparando para viajar pelo país apresentando o novo trabalho. “Queremos que as músicas destes álbuns ultrapassem os nossos nichos”. 

Siga no Instagram: @bandabernes

  • Redação SP

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